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GRATIDÃO EM DÓ MAIOR | JOÃO BENTIVI



GRATIDÃO EM DÓ MAIOR

João Melo e Sousa Bentivi




Poderia imaginar que tudo é produto do acaso, mas com a minha visão teísta e neoplatônica, ultrapasso o mundo das ideias e entendo que todas as coisas já existiam, em plenitude, desde a fundação do mundo. Nelson Rodrigues, em sua irreverência, dizia que o clássico Fla x Flux estava escrito antes que o mundo se formasse. É esse o sentimento que guardo da minha querida ATHEART: estava gestada, no coração do Altíssimo, antes da fundação dos séculos. Simples assim.


Mas Deus tem seus mensageiros, podem ser anjos, arcanjos, profetas, a natureza e até animais, como no célebre episódio da jumenta do profeta Balaão, mas notadamente Deus usa homens, maior parte das vezes, homens comuns, muitos mesmos desqualificados aos olhos da sociedade.


Creio que a ATHEART se originou dentro da logística dos céus. Os sete fundadores, que vaidosamente, à similitude da nação americana, denominá-los-ei de PAIS FUNDADORES, não tinham a menor ideia do que estavam fazendo e que bom, se prescrutassem o futuro, não teriam sofrido a gestação das dificuldades, que propiciou o nascimento e desenvolvimento da mais original instituição cultural, de nossa cidade, no século XXI.


Ousamos, inovamos, criamos, erramos, acertamos, mas construímos e temos a alegria de termos dezenas de entidades congêneres que seguiram o nosso exemplo. O que desejamos é que nossos congêneres que maravilhosamente nos imitaram, possam evoluir, de tal maneira, que alcancem um padrão de excelência superior a nós: ficaremos orgulhosos.

Tal como um orgulhoso pai, que se ufana, quando o seu filho atinge maior relevância, ficaremos felizes se algum outro sodalício assim o praticar, assim o fizer. Mas não é tarefa fácil, creio mesmo, impossível, afinal, nem só no Maranhão, mas em todo Brasil, ninguém chegou ao 57º SARAU DE ATHENAS.


A esse respeito, alguém, um dia, de maneira sub-reptícia, tentou dar somenos importância aos nossos saraus, à guisa de que, por nossa desorganização documental, não participávamos dos programas de incentivos financeiros, dos governos (muitas vezes entendo essa não participação como uma honra). Nem me dei ao trabalho de redarguir, o argumento não era inteligente. Mais ainda, na análise do produto de muitos desses eventos, o melhor resultado é o pleonasmo da mediocridade.


A ATHEART é plenamente vitoriosa, cumpriu seu primeiro objetivo: resgatar a tradição cultural de São Luís e o carro-chefe se chamou SARAU de ATHENAS. Observe-se que, quase em estrangeirismo impróprio, o “ATHENAS” e o “atheniense” são grafados com o “th”. Não foi uma casualidade.


O autor dessa ideia, esse que vos fala, nunca colocou em votação ou discussão o tal “th”, tinha certeza do que queria e, aprouve Deus, que nenhum dos fundadores questionasse. Deu tudo certo. Na sua cabeça, na minha cabeça, do mesmo modo que a Renascença europeia resgatou os ideais culturais da Grécia Clássica, aquela academia, chamada de ATHENIENSE, resgataria, pelo menos, um pouco das tradições culturais de nossa cidade, tão orgulhosamente alcunhada, por méritos, de ATHENAS BRASILEIRA. Deu certo, muito certo!


Outro fator de destaque foi a colocação nominal da palavra ARTES, na nomenclatura designativa. De novo, esse que vos fala, impregnou-se dos perfumes oriundos do século de Péricles, da Grécia Clássica. A palavra “artes” do título de nossa academia é muito mais que pintura, escultura, fotografia, música, dança ou teatro. Artes é muito mais que isso. Artes é, acima de tudo, a procura sôfrega, incansável e imparável do belo.


Na tradição grega e em algumas ordens iniciáticas, a construção da humanidade necessita e só ocorreu, devido a três pilares: sabedoria, força e beleza. Dos três, o que mais rima com a felicidade, com o riso e com o prazer é a beleza. Com orgulho, felicidade e prazer somos ATHEART, somos das ARTES. Inúmeras academias seguiram-nos. Especialmente nos orgulhamos da AMCLAM, provavelmente o mais laborioso sodalício do Maranhão, brilhante e briosamente presidida pelo imortal Carlos Augusto Moreira Furtado, meu querido coronel Furtado. Sinceros parabéns, parabéns para todas as academias que consignaram as ARTES em seus títulos, parabéns, principalmente, para as artes.


Orgulho-me, sobremaneira, ser o “PAI FUNDADOR NÚMERO 01, e tenho a certeza do tamanho do meu papel e raríssimas vezes trato de mim mesmo, quando o assunto é ATHEART, pois, sem falsa modéstia, sei que a ATHEART me dignifica, mas eu dignifico muito mais a minha academia.


Sei que isso não é a regra, no atual universo de futilidades acadêmicas e, mais ainda, sem querer fazer juízo de valor para a vida de quem quer que seja, ser de dezenas de sodalícios ou participar de eventos aqui e alhures, forçosamente viralizados nas redes sociais, não será, nunca, o atestado inconteste de genialidade literária ou artística. Exemplo bem sintético é a vida e história de Joaquim de Sousândrade. Nem precisa explicar.


Muitas e muitas vezes fui questionado, sobre o porquê, de após mais de 20 anos de fundação, ainda não termos o nosso quadro completo. Dei sempre uma resposta suscinta: a pressa e os números não podem ser maiores que o talento e méritos para ser IMORTAL ATHENIENSE.



UFANEM-SE TODOS OS IMORTAIS ATHENIENSES, ESTAIS AQUI LIVRES DE CONCHAVOS, DE POLÍTICA, DE INTERESSES SUBALTERNOS, OU COISA SEMELHANTE. ESTAIS AQUI POR MÉRITO E MERECOMENTO PESSOAL E, MAIS AINDA, SEM NENHUM DÉBITO EMOCIONAL, SENTIMENTAL OU PASICOLÓGICO COM QUEM QUER QUE SEJA. UFANEM-SE, POIS!


 

Há algum tempo fiquei estupefato, quando soube, por fonte inquestionável, que entre dois sodalícios, de um determinado estado, da federação brasileira, estaria ocorrendo trocas de imortalidades, mais ou menos assim: eu te aprovo na minha e tu me aprovas na tua. Isso é o que se chama de ápice do deplorável e graça a Deus não acontece no Maranhão.


Nesse momento de festa é necessário não ser hipócrita e isso é fácil demais para mim, não obtive êxito no cultivo do comportamento hipocrisia. Mas, nesses 21 anos, aprendi sobremaneira, dentro da ATHEART. Um dos segredos, desde o nascedouro, de chegarmos até aqui, foi essa presidência ter aprendido a ver e olhar o que interessava, ouvir e escutar somente o que seria construtivo.


Fiz-me míope e fiz-me mouco em inúmeras oportunidades e isso terminou sendo uma “autofonte” de diversão: analisar gestos e discursos, não por aquilo que estava sendo mostrado ou dito na superfície, mas pelo sentimento real, que não estava mostrado e não estava sendo verbalizado. É na análise da gênese gestual e nas entrelinhas dos discursos, que as mentes privilegiadas conseguem ver o coração e a essência das coisas e dos homens.

Aí voltamos ao parágrafo anterior.  Um dos segredos, desde o nascedouro, de chegarmos até aqui, foi essa presidência ter aprendido a ver e olhar o que interessava, ouvir e escutar somente o que seria construtivo.


  Hoje é dia de festa inesquecível e algumas providências serão tomada ad cautelam, por essa presidência, para que a nossa academia siga a sua trajetória vitoriosa, no esplendor dos 21 anos de existência:

a)  Está nomeada, a partir desse momento, a Comissão de Reorganização da ATHEART, para reformular os seus Estatutos, criar o Regimento Interno, propor a12s Regras Eleitorais, marcar a data de eleição da próxima diretoria e outros cargos, dirigir e presidir a nova eleição.


b) A citada comissão será composta por Jáder Cavalcante de Araújo, Gracilene Rosário Pinto Pereira e Maria das Neves Oliveira e Silva Azevedo, sob a presidência do primeiro nome da lista constitutiva.


c)  A partir desse momento, todas as decisões dessa academia serão de responsabilidade dessa comissão.


Finalizando, algumas observações pertinentes. Nesses 21 anos de existência, algumas tradições se incorporaram, dentro dessa academia. Como é do conhecimento de todos e da nossa sociedade, até agora somos avessos a interferências religiosas, políticas e ideológicas, dentro dos nossos eventos, mas como nunca houve uma voz contrária sequer, instituiu-se, desde o primeiro sarau, que sempre se iniciaria com um louvor de natureza teísta e isso somente não ocorreu, no único sarau que eu não pude presidir.


Confesso que fiquei incomodado e, como sugestão (somente sugestão), seria agradável que esse louvor fosse consignado como norma estatutária.


Nunca esquecer, na reformulação estatutária, que essa academia tem normas supraestatutárias, oportunamente denominadas de Cláusulas Pétreas, nas quais estão colocados o patronato dos sete fundadores, em suas cadeiras, a não militância em outros sodalícios congêneres, com mesma abrangência geográfica e mesmos objetivos da ATHEART, a impossibilidade de perda da imortalidade dos PAIS FUNDADORES, a não ser por morte e a possibilidade de veto dos PAIS FUNDADORES em qualquer instância dessa academia.


Esses cuidados fizeram com que a nossa ATHEART, além de suas genialidades, nunca se conspurcasse, nunca se submetesse a injunções políticas, partidárias, financeiras ou comerciais espúrias. Caso alguém, até hoje, seja homenageado, o será por méritos acadêmicos, científicos, humanitários, literários, artísticos ou culturais e, jamais, por ser prefeito, governador, presidente ou algo mais que o valha.


Para não cometer um esquecimento imperdoável, a minha gratidão a todos os imortais, independente do tempo de vivência, nesse sodalício, porém, de maneira mais efusiva aos imortais José Raimundo Gonçalves (in memoriam) e José Maria do Nascimento.


Nos momentos mais difíceis da ATHEART ele estavam comigo. Deu certo!


Finalmente, mesmo, despeço-me da direção da ATHEART na certeza dos acertos que tive, na penitência dos erros cometidos e na alegria de ter estado, sempre, no limite do meu bom senso e de minhas possibilidades.


Sem mais palavras, agradeço a vocês, que me suportaram em 21 anos, agradeço aos nossos amigos que nos acompanharam, em tantos eventos, agradeço a minha família e, notadamente, a minha irmã Zefinha, que em um dos meus poemas, caracterizo-a como “ossos dos meus ossos e carne de minha carne” e, a maior homenagem ao meu Deus, criador dos céus e da terra, pela certeza de salvação, em seu Filho Jesus, saboreando, até que Ele venha, das doces consolações do seu Santo Espírito. Amém.   

 
 
 

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